A responsabilidade espiritual e o caminho estreito

Alguns vislumbres sobre as condições da vida superior são gradativamente sentidos por aqueles que percorrem a senda da preparação. Cada novo passo percorrido na realização espiritual revela maior preparação para assumir maiores responsabilidades espirituais. Em sintonia com isso, à medida que a consciência do Aspirante se expande, há a percepção de que muitos de seus hábitos e/ou modo de vida não estão congruentes com tais vislumbres de verdade sentidos.

Tomar consciência sobre as necessidades de mudanças, infelizmente, não vêm acompanhada de facilidades, sendo que tanto a personalidade (eu inferior) do Aspirante quanto seu ambiente (círculo relacional, incluindo família e círculo social) podem não acompanhar esse movimento. No âmbito da personalidade, o Aspirante percebe que pensamentos e impulsos indesejáveis não o abandonam. Pelo contrário, parecem se intensificar. Em seu ambiente, notará que é difícil caminhar contra as ideias aderidas pelas massas e que é muito mais difícil levar uma vida de bondade, inofensiva e de pureza. É bem provável que ocorram conflitos interpessoais, com amigos, familiares e colegas de trabalho. É fundamental desenvolver habilidades sociais, comunicação e inteligência emocional para lidar com tais conflitos. Mesmos os Cristãos primitivos já sofreram devido ao seu novo modo de vida e este sofrimento ainda é sentido atualmente, apesar de não haver sofrimentos físicos e mortes, como ocorria naquela época.

A percepção e a consciência expandida, são somente alcançadas quando o aspirante já tenha dado provas de sua constância e altruísmo, pois só assim poderá alguém ser um firme guardião dos imensos poderes resultantes, que tanto podem servir ao bem, como podem ser usados para o mal. “Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa? Feliz o empregado que o patrão, ao chegar, encontrar agindo assim! Em verdade eu vos digo: o senhor lhe confiará a administração de todos os seus bens. Porém, se aquele empregado pensar: ‘Meu patrão está demorando’, e começar a espancar os criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o partirá ao meio e o fará participar do destino dos infiéis. Aquele empregado que, conhecendo a vontade do senhor, nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. Porém, o empregado que não conhecia essa vontade e fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!”. (Lucas, 12: 42 – 48)

Possuir responsabilidades espirituais como as mencionadas na parábola, significa trabalhar com as Leis de Deus que governam a vida do Aspirante e de todos os que estão inseridos em seu círculo de ação imediata. Significa imitar o Cristo neste círculo. A grande dificuldade é superar a tendência de apenas conceber ideias e sentimentos nobres, mas nunca materializar esses ideais no mundo físico. E a dificuldade em expressar tais ideais de espiritualidade no cotidiano é proporcional ao grau que estamos dispostos e somos capazes de assumir a vida verdadeiramente cristã.

Quanto mais se revelam verdades ao aspirante à vida superior, menos paz, descanso, objetos e situações pessoais preencherão sua caminhada. “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” (Lucas 9, 23-24).

É importante ao Aspirante iniciar a busca pelas barreiras invisíveis que o faz andar para trás e não alcançar novas etapas de realização espiritual. Por exemplo, cada vez que nos deparamos com a incongruência entre verdade e realidade, podemos sofrer a tentação de sentir nos impotentes. Acabamos por ter pensamentos pessimistas do tipo: “não estou à altura da responsabilidade que assumi” ou “tudo isso é uma pura utopia” ou ainda, “há certos hábitos ou traços em minha personalidade que é inútil lutar para transmutá-los”. Em outras palavras, ele percebe que há um grande abismo entre a verdade sentida e a realidade vivida e, para tornar essa verdade uma realidade, requer-se-á a renúncia de toda uma atitude referencial condicionada (ou automática) de viver, que constitui sua identidade inferior. Isso, portanto, implica em passar a viver com responsabilidades pessoais e coletivas.

Esse sofrimento, que o estreito caminho da santidade e de consagração a uma vida de altruísmo, no entanto, deveria servir de combustível para que o Aspirante encontre forças para transmutar suas pedras brutas (seus corpos impuros e não desenvolvidos) em pedras preciosas como o ouro, o rubi e o diamante. A senda da preparação nos guarda uma vida de sofrimento, renúncia e trabalho. Apesar disso, a sensação permanente de plenitude e certeza de estar no caminho não possui comparação a qualquer gozo mundano ou conceitos de felicidades materiais que o mundo ordinário oferece.

Quem não trabalha, não tem direito de comer”. Comer significa ter gozo ou parte com Cristo, o pão da vida. “ALEGRAI-VOS e REGOZIJAI-VOS, porte será GRANDE a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós” (Mateus 5, 12).

Que as Rosas Floresçam em vossa Cruz.

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