A resposta para essa pergunta demanda conhecer o motivo pelo qual adoecemos. Do ponto de vista científico moderno, nascer, crescer, envelhecer e morrer são etapas naturais do desenvolvimento da vida, do ciclo vital. Cada uma dessas etapas constituem padrões de mudanças, por exemplo, mudanças referentes à idade, a uma espécie, a geração, a cultura e até mudanças individuais. A ciência acredita que esses estágios do desenvolvimento são determinados pela interação entre fatores biológicos (genética) e ambientais (nutrição, educação, estimulação, etc.). Dessa mesma interação, surgem grande parte das doenças físicas e mentais.

Os motivos pelos quais o ciclo vital passa por esses estágios, bem como os porquês que um corpo adoece, não ultrapassam a compreensão da interação mencionada, isto é, entre biologia e ambiente. A partir dessas observações factuais, é possível induzir que é parte da natureza dos organismos vivos, nascer, se desenvolver, envelhecer, morrer, bem como a possibilidade de passar por este ciclo com graus de saúde ou doença: toda vida biológica é finita.

Para essa concepção, o mundo e o ser humano são exatamente o que deveriam ser, dentro de sua evolução natural. A doença, o envelhecimento e a morte são acontecimentos naturais da vida. Por isso, a cura, nessa perspectiva, é processo de harmonização das partes essenciais do corpo, harmonia essa, determinada pelas leis da biologia ou da física. O indivíduo pode facilitar ou dificultar esse processo e pode ser completamente inconsciente das leis que regem sua saúde e ciclo vital. Não há espaço aqui para milagres ou para o sobrenatural.

A Filosofia Rosacruz, por outro lado, se baseia na compreensão cristã para esse assunto. O cristianismo compreende os estados de desenvolvimento da vida, o adoecimento e a morte, como algo não natural. A ordem das ideias que fundamenta essa noção está baseada na concepção da Queda, na ideia de degenerescência e da descida. Mas o que vem a ser a concepção da Queda?

Aprendemos no Livro da Gênesis que o ser humano é criado com identidade Divina. Isto é, ele é Imagem e Semelhança de Deus, além de possuir consciência de imortalidade. Essa consciência é simbolizada por Adão e Eva enquanto viviam no Jardim do Éden. Neste estado, chamado entre os espiritualistas de natureza naturante, o ser humano tinha união plena com Deus, o seu conhecimento era dado por revelação direta, sua espontaneidade primordial dava impulso para seguir a evolução ditada pelas Hierarquias Criadoras e não havia conhecimento da morte, mas sim transformação contínua das formas para que a centelha divina evolua até à Divindade.

Com a Queda do Homem, o destino original da humanidade e de todo o planeta Terra foi modificado. A União Plena com Deus foi substituída pela luta ou pelo esforço, a revelação direta pelo sofrimento e a consciência de eternidade foi substituída pela morte. Em outras palavras, caminho da Semelhança foi atingido. Pelo egoísmo, pela desobediência à Lei e pelas práticas do mal, os corpos se cristalizaram e ficaram desarmônicos com o Arquétipo Divino. Não somente os Corpos, mas também, todo o planeta Terra.

Com efeito, a concepção de Queda oferece a ideia de dois tipos de natureza: a natureza naturante (natureza primordial, representada na Bíblia em Adão e no Jardim do Éden), e a natureza decaída (natureza pós-queda ou atual).O mundo e o homem não são, portanto, o que deveriam ser. Eles estão doentes. Porém, esse mundo e esse homem doentes conservam, em toda parte e sempre, os sinais de sua saúde primordial. A imagem de Deus, do arquétipo divino, não sofreu nenhum efeito da “queda”. Por isso, é possível o retorno ao estado primordial. Por isso, o lado da luta pela sobrevivência, decorrente da natureza decaída, também persiste a cooperação para a vida. Enquanto o céu estrelado representa uma harmonia de equilíbrio e de cooperação perfeita, os animais e os insetos se entredevoram, e legiões de micróbios infecciosos trazem ao homem, aos animais e às plantas a doença e a morte. O mundo pode, então, ser cantado e chorado ao mesmo tempo. Tal é a origem do problema da queda: o mundo é digno de ser cantado e chorado.

Recuperar o estado primordial é justamente o ideal de CURA que pressupõe uma força da alma capaz não só de libertar-se das forças da natureza decaída (fatos empíricos, envelhecimento e morte), como também tornar-se espírito motor (em lugar de espírito movido), ao ponto de elevar-se até à participação da consciência na obra dos milagres divinos. A cura aqui não é apenas um processo de harmonização das leis físicas ou biológicas, mas a recuperação da natureza primordial ou naturante, perdida pela Queda.
Por isso, a fórmula que anuncia a Boa Nova de que os efeitos da queda podem ser ultrapassados e de que o caminho da evolução humana pode voltar ao que era, essa fórmula, diz o seguinte: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

A perspectiva cristã possibilita não apenas sair do estado de natureza decaída e retomada do estado de natureza naturante, mas também permite ultrapassar esse estado primordial alcançando o estado do Sobrenatural. Por isso a religião Cristã é uma religião de salvação e dos milagres (do sobrenatural). O ideal cristão é a renovação do mundo, “o novo céu e a nova terra” (Ap 21, 1). Não existe ideia e ideal mais arrojados, mais contrários a toda experiência empírica (da natureza decaída), mais chocantes para o senso comum do que os do novo céu e da nova terra.

A ideia, o ideal e a obra de fazer “novas todas as coisas” é o apelo mais criativo, mais generoso e mais corajoso na alma humana. Porque convidam a alma a se tornar instrumento consciente e ativo da realização – nem mais nem menos do que – de um milagre de abrangência cósmica. Eis quanta fé, quanta esperança e quanto amor implicam a ideia, o ideal e a obra do NOVO! Seu efeito milagroso é tamanho que não passou despercebido por São Paulo, que escreveu:

“Onde está o sábio? Onde está o homem culto? Onde está o argumentador deste século? Com efeito, visto que o mundo por meio da sabedoria não reconheceu a Deus na sabedoria de Deus, aprouve a Deus pela loucura da pregação salvar aqueles que crêem” (1 Cor 1,20-22).

O amor age onde quer que se encontre. Ele é a vocação de todos e não é prerrogativa de ninguém. Curar significa “Dar a liberdade a quem é escravo”. Escravo da natureza decaída. E ela compreende todas as obras mencionadas por Lucas (7,21-22):

“Jesus curou a muitos de doenças, de enfermidades, de espíritos malignos, e restituiu a vista a muitos cegos. Então lhes respondeu: ‘Ide contar a João o que estais vendo e ouvindo: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o Evangelho”.
O que teria o Ser Humano a ver com a manifestação de Milagre ou de Cura por ação de Deus? Essa questão merece profunda meditação, porque inclui o mistério central da religião cristã, o da encarnação.

“O mistério do Deus-Homem é a chave para a Manifestação de Curas Divinas ou Milagres; tendo sido a condição fundamental da obra da Redenção, ela é a operação da Vontade divina comparável somente com a da criação do mundo”.

Pedro então lhe disse: ‘Enéias, Jesus Cristo te cura! Levanta-te e arruma teu leito'. Ele imediatamente levantou-se” (At 9, 34).

Os milagres exigem duas vontades unidas! O Ritual de Cura da Fraternidade Rosacruz descreve: “Se alguém se absorve numa intensa súplica a um poder superior, sua aura parece afunilar-se em forma muito semelhante à parte inferior da tromba marinha. Essa forma eleva-se no espaço a grande distância, e sintonizando-se com as vibrações do Cristo do Mundo Interplanetário do Espírito de Vida, atrai para si uma Força Divina que penetra na pessoa ou no grupo de pessoas, e vivifica o pensamento-forma que elas criaram. Desse modo, o fim pelo qual se reuniram será atingido”.

“Os milagres de cura não são manifestação do poder onipotente ordenado, mas são devidos ao poder novo, que nasce toda vez que há união da vontade divina com a vontade humana. Pedro teve, então, muito a ver com a cura de Enéias em Lida. A vontade divina tinha necessidade de sua vontade para produzir o poder que fez com que Enéias, paralítico, se levantasse de seu leito. Essa ação simultânea e concordante da vontade divina e da vontade humana é precisamente o que entendemos por· “magia sagrada” ou “magia divina”.

Além disso, curar os enfermos significa libertar tudo aquilo que está privado e que também se cristalizou com a Queda. É disso que são Paulo fala:

“Pois a criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus. De fato, a criação foi submetida à vaidade – não por seu querer, mas por vontade daquele que a submeteu – na esperança de ela também ser libertada da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus. Pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores do parto até o presente.E não somente ela. Mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente, suspirando pela redenção de nosso corpo” (Rm 8,19-23).

Esses são alguns dos motivos pelos quais a Fraternidade Rosacruz possui como um de seus principais pilares a cura dos enfermos. Meditemos e busquemos a cura.

“Que as rosas floresçam em vossa cruz”

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